Olhos voltados para o céu: a expectativa pelo Grande Eclipse e o espetáculo das luzes do norte

A astronomia vive um momento de grande efervescência, com observadores de todo o mundo em compasso de espera para presenciar fenômenos que desafiam a nossa compreensão da beleza cósmica. Entre os eventos mais aguardados está o eclipse solar total, uma raridade astronômica que ocorre quando a Lua, em sua órbita, posiciona-se de tal forma que bloqueia completamente a luz do Sol. Embora eclipses solares ocorram, em média, duas vezes por ano com intervalos semestrais, a repetição de um eclipse total no mesmo ponto do planeta Terra é um evento que demora cerca de 400 anos para acontecer.

Durante esse fenômeno impressionante, a Lua, ao passar na frente do astro-rei, deixa visível apenas a coroa solar a partir da superfície terrestre. Para nós, brasileiros, a memória ainda guarda o registro do último eclipse total visível em território nacional, ocorrido em 3 de novembro de 1994. Contudo, a dança dos astros reserva seus próximos grandes espetáculos para outras latitudes.

O Grande Eclipse da América do Norte

O calendário astronômico marca o dia 8 de abril de 2024 como a data do próximo eclipse solar total. Infelizmente, este evento específico não poderá ser observado do Brasil, privilegiando os espectadores do hemisfério norte. O fenômeno terá início nas águas do Oceano Pacífico Sul e cortará o continente norte-americano, atravessando o México, os Estados Unidos e o Canadá. A magnitude do evento já lhe rendeu o apelido de “Grande Eclipse da América do Norte” por diversos meios de comunicação.

A duração da totalidade será um dos pontos altos, estendendo-se por cerca de 4,47 minutos — um tempo consideravelmente longo para esse tipo de ocorrência. Segundo especialistas da NASA, este eclipse será substancialmente diferente daquele visto em 2017. Devido à maior atividade solar verificada atualmente, os cientistas preveem que a coroa solar, a camada mais externa da atmosfera do Sol, estará muito mais visível e dinâmica. A expectativa é que o fenômeno seja visível por cerca de dois minutos a mais do que o seu antecessor de 2017.

Polly White, fundadora do portal educacional Great American Eclipse e conhecida “caçadora de eclipses”, destaca que o interesse público cresceu exponencialmente após o eclipse anular de outubro de 2023. Ela projeta a visualização de uma coroa solar grandiosa, com possíveis jatos de energia — as chamadas ejeções de massa coronal — e uma cromosfera brilhante e ativa. Para tornar o cenário ainda mais cinematográfico, existe a possibilidade de um cometa tornar-se visível com o auxílio de binóculos durante a totalidade do eclipse, mesmo que esteja distante do Sol.

Logística e visibilidade internacional

O trajeto da totalidade em abril de 2024 será mais amplo do que nos eventos recentes, abrangendo uma faixa significativa de território. O eclipse terá início às 15h20, atingindo seu ponto de ocultação máxima às 23h44 (pelo horário de Brasília). A sombra da Lua tocará a costa do México às 16h e deixará o continente pela costa Atlântica do Canadá às 17h.

Nos Estados Unidos, embora todo o país possa ver ao menos um eclipse parcial, a experiência da totalidade será reservada para uma faixa específica que vai do Texas ao Maine, passando por estados como Oklahoma, Arkansas, Missouri, Illinois, Kentucky, Indiana, Ohio, Michigan, Pensilvânia, Nova Iorque, norte de Vermont e Nova Hampshire. No México, cidades como Vitória de Durango e Torreón estarão no camarote principal, assim como Montreal, Hamilton e Ontário, no Canadá.

A raridade do evento é acentuada pelo fato de que, após 2024, um eclipse solar total só voltará a ser visível para esses observadores em 2044. Para os brasileiros, o consolo vem em forma de agenda futura: o próximo eclipse solar visível daqui ocorrerá em 2 de outubro de 2024. Será um evento parcial, restrito ao centro-sul do país, começando por volta das 15h e durando até o pôr do sol. Já em 6 de fevereiro de 2027, quase todo o Brasil poderá acompanhar um eclipse parcial, com exceção da região Norte.

As cores vibrantes da atmosfera

Enquanto aguardamos os movimentos da Lua e do Sol, a atividade solar continua a pintar os céus com outras formas de arte natural. Recentemente, a região de Sun Valley, nos Estados Unidos, foi palco de um show de luzes hipnotizante. Na quarta-feira, 12 de novembro, o fotógrafo John Boydston registrou imagens impressionantes da aurora boreal a partir de Elkhorn. Após um início com céus tingidos de um vermelho intenso, o fenômeno assumiu tonalidades de verde e roxo por volta das 22h.

O espetáculo não se restringiu apenas às auroras. Moradores do Wood River Valley relataram pores do sol deslumbrantes nas últimas semanas, confirmando que a atmosfera tem estado particularmente generosa com os observadores. Como bem observou a cobertura local, na falta de neve para a temporada, o céu encarregou-se de oferecer a beleza necessária para encantar a todos. Seja através da sombra da Lua ou das luzes do norte, o firmamento continua sendo a tela mais fascinante que temos à disposição.