Supersafra brasileira desafia mercado global
O Brasil está colhendo uma das maiores safras de milho da história, e isso tem chamado a atenção do mercado internacional. Segundo Matthew Kruse, presidente da Commstock Investments, os primeiros dados de produtividade indicam que o país pode produzir até 800 milhões de bushels a mais do que as projeções feitas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e pela CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).
Imagens compartilhadas por produtores em Mato Grosso mostram colheitas com rendimentos entre 200 e 220 bushels por acre — números considerados excepcionais para a segunda safra brasileira. “Para os padrões de Iowa, isso seria aceitável, mas no Brasil é extraordinário, o melhor desempenho de todos os tempos”, afirma Kruse.
Pressão nos preços e atraso na colheita
Com esse volume expressivo de produção, os preços do milho no Brasil caíram drasticamente. “O mercado à vista está em queda livre, com milho sendo negociado por US$ 3,00 a US$ 3,10 em regiões como o centro de Mato Grosso”, observa Kruse. Esse cenário torna o milho brasileiro extremamente competitivo no comércio internacional, pressionando os preços globais e preocupando os produtores norte-americanos.
Apesar da alta produtividade, o clima úmido tem atrasado o avanço das colheitadeiras. Até o final de junho, apenas cerca de 20% da área plantada havia sido colhida no Mato Grosso.
Enquanto isso, nos EUA: foco na silagem de milho para produção leiteira
Enquanto o Brasil colhe milho em volume recorde, nos Estados Unidos o foco de muitos produtores está na silagem — um processo fundamental para alimentar o gado leiteiro. Em Hastings, Michigan, a família Haywood do Sand Creek Dairy, que opera com cerca de 1.200 vacas, está se preparando para a colheita do milho voltado à produção de silagem.
A preparação do maquinário é um processo coordenado com precisão. Seis funcionários adaptam o picador Claas 970 de 10 linhas para colher milho com alto teor de umidade. “Eles trabalham como uma equipe da NASCAR, fazendo ajustes rápidos para que possamos iniciar a coleta de amostras de umidade no campo”, explica Ethan Haywood.
Preparação e manutenção: segredos da eficiência
Segundo o especialista Fritchey, a preparação adequada da máquina é essencial para garantir qualidade e eficiência. “É preciso trocar as lâminas do rotor de corte de grama para milho, verificar o torque de acordo com o manual, revisar os rolos do processador de grãos, garantir que o espaçamento esteja correto e inspecionar os rolamentos”, detalha.
Outro ponto importante é a calibração dos sensores de fluxo de massa. Isso é feito pesando cargas específicas colhidas no campo e comparando os valores com os dados registrados pela máquina. “Os números nunca são exatos, mas é possível aproximá-los com uma boa calibragem”, comenta Fritchey.
Após a colheita, atenção com a limpeza e armazenamento
Encerrada a temporada, a equipe do Sand Creek Dairy realiza uma limpeza profunda no equipamento, utilizando lavadoras de alta pressão, ar comprimido e graxa nas partes móveis. Antes de começar a nova safra, o maquinário passa por uma nova inspeção completa. “Verificamos se há sinais de animais, danos e desgastes. Trocamos vedadores, reengraxamos tudo e nos preparamos para o primeiro corte de feno”, diz Haywood.
Fritchey reforça que muitos agricultores subestimam a importância dessa rotina. “É uma questão de cuidado. As máquinas trabalham por meses a fio, do início de abril até novembro. Limpar, inspecionar e ajustar ao final da temporada é o que garante o bom desempenho na seguinte”, conclui.
Duas realidades, um mercado interligado
Enquanto o Brasil fortalece sua posição como gigante da produção de grãos, impulsionando exportações e pressionando preços, os EUA mantêm o foco na qualidade e na eficiência da produção forrageira. O contraste entre o volume brasileiro e o controle técnico norte-americano mostra como o agronegócio, apesar das distâncias, está conectado por estratégias, clima e mercado.